quarta-feira, 30 de março de 2016

30/3

Eu tinha saído da aula de educação física ofegante depois de todo aquele corre-corre a aula inteira. Subi com minha mala até o terceiro andar e me dirigi até a sala com um sorriso no rosto. Eu adoro a aula de português, a professora é legal, além de dar muitas dicas e modelos para continuar a escrever meu livro. Eu acho que vou acabá-lo até o fim do ano, vai ser a maior felicidade do mundo, imagina participar mesmo que seja só um pouco da história do mundo?

Vai ser um sonho realizado.

Voltando estava na sala, à professora chegou, e em seguida falou:

- Nós vamos faze a aula de português na quadra hoje.

Só de pensar nisso comecei a bater a cabeça na mesa, não tinha mais forças para permanecer de pé. A Sophia olhou pra mim com uma cara cética, e sarcástica, ela já me conhece há muito tempo eu sei, mas eu acho que ela não compreendeu minha linha de raciocínio.

Ontem eu fiquei acordada até tarde fazendo “minhas atividades”, eu tive que costurar uma bolsa para minha avó (demorou muito!), Fazer a lição de casa, ir para a aula de dança, além de muitas outras coisas. Eu só não estava dormindo, pois consegui dormir um pouco no carro.

Descemos até a quadra, e pela segunda vez teria de fazer aula com os meninos! É deixou a aula um tanto mais interessante do que já é. A professora disse:

- Vamos corrigir os exercícios oralmente, e em seguida explicação dos verbos irregulares, e cobrança de pênaltis.

E assim se fez, fizemos a correção dos exercícios sobre Anne Frank, eu gosto particularmente da história, pois pela simples ação de escrever um diário, de desabafar no papel, se tornou “famosa” após a publicação de seus registros.

Viu! Eu falei! Você não precisa jogar na copa do mundo para ser famosa, mas não, mais de meio mundo não acredita em mim.

As maiorias das perguntas eram pessoais, o que tornou uma lição de casa um tanto mais fácil comparando com as anteriores, e a flexão de respostas foi interessante. A Sophia escreveu uma big mega resposta, isso mesmo que eu escrevi big mega, sobre o que é escrever um diário. Ela fez uma resposta bem interessante.

Ela conseguiu escrever meu sentimento ao sentar na frente do computador e começar a digitar. Tem uma hora do meu dia que isso se torna necessário, minha imaginação começa a transbordar e eu não consigo mais focar em nada, e quando chega esse momento, pego meus fones de ouvido, coloco uma música qualquer, e uma idéia que poderia se tornar um livro vira uma simples história, que todos escrevem em seus registros diários.

Após a correção a professora fez uma apresentação oral sobre o que é um advérbio, depois nos dirigimos ou gol, a professora faria uma pergunta e se não respondesse pelo menos cinqüenta pó cento certo não tem o direito de chutar.

Eu me voluntarie para ir ao gol, como goleira, lógico, adoro ser goleira, o que até hoje não entendi o porquê.

O primeiro da fila foi até a linha e a professora fez uma pergunta:

- O que é um advérbio?

E o aluno com um pouco de hesitação de poucos segundo, que para mim foram uma eternidade, um momento que um dia fora pouco hoje me vejo vendo o passar em câmera lenta sobre meus olhos, ele poderia responder a qualquer momento e eu não sabia se estava preparada, o sol estava em um ângulo que ofuscava meus olhos, e o calor me abatia como um deserto invisível. Até que em fim seus pensamentos se clarearam, e respondeu:

- É uma palavra invariável que complementa o sentido de um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, indica circunstância.

Ela levantou sua mão, como os grandes imperadores do império Romano. Se fosse um joinha pra baixo, errou um joinha pra cima, é considerável.

Sua mão, como escrevi antes se levantou para mostrar seu veredito final, e para minha quase surpresa ela fez um joinha pra cima.

O aluno chutou a bola, só que o tempo parou nos meus olhos, vi a empolgação de todos atrás esperando a sua vez na fila, com expressões nunca vistas na história da Terra, sabe com aquela cara entre laranja estrada e pão amanhecido.

Eu vi a expressão da professora demonstrando certa dúvida sobre se eu iria segurar a bola ou não. Isso só o tempo sabe.

E por último vi a mim mesma, como uma pequena criança, com medo sobre o que o mundo me mandaria como desafio desta vez, será a superação da derrota ou a comemoração da vitória. O calor escorria em meu rosto em forma de suor, não sei se foi por causa da pressão ou se é porque eu estava usando um casaco de linha e o meu cabelo absurdamente quente.

Mesmo aquela bola de fogo resplandecente lançada aos seus, quando? Inda não se sabe o registro.

Naquele importante e exclusivo momento pude perceber mais sobre o mundo a minha volta, do que nesses últimos quase doze anos. O tempo descongelou com a mesma facilidade que tinha se congelado na minha mente.

A bola se aproximava cada vez mais, e pelo meio de minhas mãos a bola passou fazendo um gol. Admito, fiquei decepcionada, aquela que á de me vencer foi ninguém mais, ninguém menos que minha amiga Sophia.

Mesmo me sentindo magoada por dentro, eu me sentia feliz pela vitória da minha miguchinha, ela entrou no gol com determinação de que iria se tornar rainha, e até mais empolgação do que uma pessoa que ganhou na mega-sena.

Quando estava me dirigindo ao fim da fila, a professora falou:

- Vá Letícia é sua vez.

- Mas, professo...

- E a sua vez, por favor, vá ao começo da fila.

Ouvi alguns gemidos, protestando contra isso, aqueles que já tinham esperado.

A professora perguntou:

- O que é uma Locução Adverbal?

Minha mente parou, quando isso acontece penso em micro-pastas organizando meus pensamentos. Abri a pasta escrita: advérbios. Mas os registros atuais já tinham sido apagados, que porcaria de cabeça que não consegue nem guardar informação recente.

Olhei para os lados tentando achar alguma coisa que poderia me lembrar da resposta. Olhei para a blusa da professora e li a frase: Eu sempre vivo a vida com alegria.

Espera “com alegria” é uma locação adverbial, me lembrei de todas as explicações como em um passe de mágica, e respondi:

- Locução adverbial é quando duas ou mais palavras unidas formam a mesma idéia transmitida por um advérbio.

Ela levantou a mão e fez um joinha para baixo, e me dirigi até o fim do fila. Meus ouvidos se desligarem, imaginei-me com meus fones de ouvido ouvindo uma música para pelo menos isso tentar me animar. Mas logo acordei para a realidade de novo, quando alguém encostou a mão no meu ombro.

Era a Isadora. Que começou a falar. Só eu estava tão concentrada na derrota que nem ouvia o que ela tinha a dizer. A Julia começou a me chacoalhar, e só ai que eu tirei os fones de ouvido invisíveis que logo depois viraram vento em minhas mãos.

- Acorda que a vida só se vive uma vez! – disse Isa.

- Eu estou acordada! – respondi.

- Você poderia ser uma astronauta. – disse Julia.

- Mas por que você diz isso?

- Por que você sempre vive no mundo da lua.

- Faz sentido.

- Me lembra dessa depois pra eu falar pro meu irmão. – disse Isa. – Há... O que queríamos dizer pra você. O lha pra trás!

E bem atrás de mim a professora estava com o polegar levantado, Eba um joinha positivo.

Com um andar pesado, mas acelerado, andei até a linha de pênalti, e com a maior concentração do mundo, foquei-me no meu objetivo, os fones de ouvido invisíveis se materializaram na minha mão, eu os coloquei e avancei em direção do gol.

E com um chute perfeito consegui fazer um gol, que felizcidade, eu sei que não é assim que se escreve, mais eu falo assim, para representar que quando minha energia alimentada pela felicidade se enche consigo abastecer cidades inteiras.

E assim mantive minha posição, a aula acabou, mas que decepção. Eu fui em direção a sala correndo comi meu lanche, e agora meus fones de ouvido de verdade, me sentei na biblioteca e comecei a digitar, algo que eu tenho certeza que as oito e meia da noite devo estar fazendo de novo relatando essa experiência.