quinta-feira, 31 de março de 2016

31/3


            O dia estava bom, pra um dia que nem todos os outros, mesmo as aulas serem legais e divertidas, era meio repetitivo, me lembro na segunda-feira quando derrotei mais de dez mil guerreiros na ilha de páscoa, depois de descobrir que os babados da minha bolsa eram na verdade lâminas, e só o simples gesto de girar a bolsa já tinha um escudo protetor de lâminas rotativas.

            Mas hoje já é quinta-feira, e o registro é sobre quinta-feira, então vou escrever sobre a quinta-feira, vou falar da minha emocionante aula de português de hoje.

            Era uma aula depois do recreio, todos estavam em um nível altamente preocupante de agitação. A professora chegou à sala e todos como em um passe de mágica foram até seus lugares, muitos sem nem mesmo o caderno em mãos.

            A aula iniciou-se com leitura dos registros diários, quando a professora projetou no telão a continuação dos registros sobre advérbios. Quando a Adilson bateu na porta e cochichou no ouvido da professora, que do meu lugar foi irreconhecível saber do que eles estavam falando, mas pela expressão adotada pela professora a situação era de níveis colossais.

            - Como você descobriu isso? – perguntou a Fernanda.

            - Deixaram um pen drive em cima da minha mesa hoje de manhã, quer que eu te mostre. – respondeu Adilson.

            - Alunos! Vamos fazer uma pequena interrupção na aula, e bem rápida, já vamos prosseguir.

            A professora acompanhou Adilson até o computador, já como os olhos lacrimejando, o Adilson instalou o pen drive no computador. A tela que antes estava em congelada, tremeu e deu lugar a um carinha com fantasia de carnaval, não, não era uma fantasia de carnaval de verdade, mas fala sério ele estava usando uma mascará e um terno roxo!

            - Fred! – exclamou a professora. Serio o nome dele era Fred?!

            - Você o conhece. – falou Adilson.

            - É uma história bem longa, mas basicamente ele fez muito mal a minha família, depois que meu pai roubou o amor da minha mãe que ele diz que deveria ser dele. De play no vídeo.

            Ele concordou com a cabeça, e deu play. O cara carnavalesco começou a falar:

            - Professora Ferdinanda...

            - É FERNANDA! – falou a professora, mas será que ela sabe que aquilo é um vídeo?

            -... ou seja lá qual for seu nome, não ligo, sem ressentimentos, sem ressentimentos, só estou aqui para me vingar daquele que tirou o amor de minha vida de mim. Se quiser seu pai de volta, se quiser esse traidor que você chama de pai, me encontre na quadra sete da Bela Cintra. Bye, bye.

            A professora que durante todas as aulas até hoje se mostro tão implacável e imponência, se viu de joelhos no chão, como nunca imaginei que estivesse.

            - Hã... Fernanda. – disse Isadora.

            - Você tem razão, eu tenho que ir atrás dele.

            -... – ela abriu a boca pra falar, mas não teve nem chance.

            - Mas não é por isso que iremos adiar a aula, me acompanhem, vou explicar tudo no caminho sobre os verbos irregulares.

            Saímos da sala, e em quanto esperávamos o elevador, a professora explicou com as bochechas inchadas e olhos vermelhos, as exceções que os advérbios de intensidade apresentam:

            - O advérbio de intensidade pode intensificar o sentido do verbo, adjetivo ou outro advérbio.

            Descemos até o primeiro andar, passamos pela ponte que ligava os dois prédios e pelas escadas a professora dava alguns exemplos em quanto íamos até a quadra sete.

            A professora foi até a quadra em quanto nós esperávamos na escada, deu pra perceber que era assunto pessoal.

            - Muito bem Ferdinanda. – falou Fred.

            - Meu nome é FERNANDA! – falou a professora.

            - Que seja eu vim...

            - Não, eu vim dar um ponto final em tudo isso.

            - Você e que exército?

            - Venham. – chamou a professora.

            Chegamos como se fossemos salvar a pátria.

            - Eu lhe faço a mesma pergunta. Você e que exército? – falou a Fernanda.

            - Esse! – muitos robôs surgiram das paredes ou de algum lugar não perceptível por mim.

            - Sabe tem uma coisa que você não sabe sobre meus alunos.

            - O que?

            - Meus alunos derrotam os seus robôs com facilidade.

            Pegamos algumas bolas que uma turma deixará pra trás, e com aquelas armas em mãos, bom vencemos. A professora chegou bem perto de Fred e perguntou:

            - Onde está meu pai?

            - Seu pai, não era sério, foi só uma piada que quase primeiro de abril.

            A Fernanda pegou seu telefone e ligou para policia, Fred até tentou pedir piedade, mas não deu certo.

            E essa foi minha aula de hoje.